Que pretendo dizer, Senhor meu Deus, senão que ignoro donde parti para aqui, para esta que não sei como chamar, se vida mortal ou morte vital?
A morte faz parte do nosso mundo, mas ao mesmo tempo não se encaixa em lugar algum. Ela está ali e fingimos que não conseguimos enxergá-la, porém não há como evitá-la. Agostinho não evita o assunto e nem tenta reagir como se a morte fosse uma coisa boa ou agradável, pois não é.
A bíblia fala sobre a vida e insiste em dizer que Deus é o Deus da vida, que fornece vida e que se agrada com a vida e que Jesus é o logos da vida, ou seja, o sentido ou a palavra da vida, entretanto percebemos que a morte também é um assunto recorrente nas escrituras.
A morte não pode ser esquecida, já que alguém que não saiba lidar com a morte é alguém que terá problemas sérios em sua caminhada neste mundo. Uma pessoa saudável é aquela que lida bem com a morte, e isso não quer dizer que aceite ou goste.
Juntamente com a morte vem a dor e, quer aceitemos ou não, a nossa cultura atual foge da dor a todo custo sendo que isso não é uma coisa boa.
No lado biológico da moeda, a dor tem várias funções e uma das mais importantes que podemos dizer é aquela dor que mostra algo errado ali e que você não pode ignorar, é por isso que aqueles remédios que apenas amenizam a dor mas não tratam a doença em si podem ser tão perigosos, pois o corpo está mandando sinais de perigo, mas o remédio lida apenas com o sinal de perigo e o verdadeiro perigo continua lá nos matando aos poucos.
As nossas dores emocionais, psicológicas, existenciais e afins funcionam em um sentido parecido com as nossas dores físicas, se tratarmos apenas o sinal de perigo não teremos tratado o perigo real e continuaremos morrendo sem saber. É por isso que:
É melhor ir a funerais que ir a festas; afinal, todos morrem, e é bom que os vivos se lembrem disso. A tristeza é melhor que o riso, pois aperfeiçoa o coração. O sábio pensa na morte com frequência, enquanto o tolo só pensa em se divertir.
Eclesiastes 7.2-4
Agostinho ao falar da vida não cansa de falar sobre o prazer da vida e do quanto a sua vida é abençoada por Deus, mas e a morte? A morte também tem o seu espaço pois ele é sábio e o sábio sabe como lidar com a dor sem fingir que ela não existe. Em suas confissões ele não pinta um quadro perfeito sem dor ou sofrimento, isso seria estupidez de sua parte, ao contrário, o sofrimento faz parte de suas confissões e a morte também, tudo isso para que ninguém se engane sem considerar que:
“A vida humana, enquanto se prolonga e parece prolongar-se, é antes um decrescimento do que um crescimento.” (Santo Agostinho, Sermão XXX-VIII)
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